Considero a arte como um todo e também acredito que o artista é capaz de estar em qualquer projeto que esteja relacionado com a arte em termos de execução de obras/performance e crescer com os novos desafios.
Em 1986 quando o realizador Jean de Dieu me convidou para entrar num projeto de um telefilme "Serenata Sem Luar" com os técnicos Carlos Adriano, Manuel Estevão, João Fortes, Fonseca Soares, onde eu fazia o papel de "Djô Bazof" e contracenava com muita gente talentosa (Djosca Lopes, José Lima, Lilia, Armindo, Manuela, Tony e muitos mais), me senti um pouco intimidado com esse projeto pois era a primeira vez que entrava em algo do género e vinha logo como personagem principal num projeto onde haviam actores com mais rodagem do que eu, vindos do mundo do teatro, não obstante eu ter uma certa familiaridade com a câmara pois meu pai costumava nos filmar em cenas de improviso quando vinha de férias da Holanda com a sua máquina Super 8, ele era um entusiasta e de também ter tido uma breve passagem pelo teatro em 1980 na cidade da Praia (com a peça "Mataram um actor", grupo Jaime Mota) e em Mindelo 1980 com o grupo "Os Atlânticos", criado por João Ricardo e com vários actores apaixonados pelo teatro ensaiamos vários sketches mas não chegamos a apresentar espetáculo pois o grupo por razões diversas se desintegrou.
Essa sensação inicial foi passando e dando lugar à sensação de Eu Posso a medida que as cenas se iam somando. Esse filme foi passado na TVEC (Televisão Experimental de Cabo Verde). Como estávamos nos inícios da televisão em Cabo Verde e dado a qualidade do trabalho conseguido mesmo com os parcos meios à nossa disposição na altura, o filme teve um impacto que me pegou de surpresa. Não tinha a mínima noção do que era ser famoso por uns dias. De repente as pessoas me passaram a reconhecer na rua e me abordavam sobre o meu papel e sobre o filme e senti que a minha privacidade estava em risco. Me "hibernei" por uns tempos. Até hoje muitos me chamam de "Djô Bazof" nome do meu personagem no "Serenata Sem Luar".