quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Buldónhe, termo muito nosso

Não sei bem qual a origem da palavra "buldónhe", palavra essa que desde pequeno vim habituado a ouvir da boca das pessoas quando apresentava alguma das minhas criações de vária natureza ou quando apresentava uma solução para um devido problema de natureza prático. Será que essa palavra é de origem inglesa (bulk + done?) e foi adulterada para criolo?

Na verdade cresci num ambiente onde haviam pessoas muito habilidosas aos quais também chamavam de buldónhe e aqui cito os nomes de Antonim (popularmente conhecido por Antonim Latinha) a quem considero meu primeiro mestre, também o Bitim outro a quem considero meu segundo mestre, pai de um amigo de infância a quem chamávamos Djunga e ele também outro buldónhe. O Antonim era um pouco de tudo: Funileiro, sapateiro, carpinteiro e o Bitim era também um pouco de tudo. Eram todos quase totalmente autónomos e há alguns anos pensei que as gerações de buldónhe haviam acabado dado ao interesse dos jovens por outras coisas mas após conhecer uma criança (o Lucas) a quem posso chamar de meu enteado, que na altura penso que teria 9 anos e já criava coisas interessantes ficou-me a ideia de que os novos ventos de tecnologias alienantes não vão acabar com as gerações de buldónhe.

Também me surpreendi com o César (meu primo por afinidade) que também se manifestou como sendo buldónhe pela multiplicidade de coisas que ele faz e com outro primo meu o Newton e também com a minha irmã Tchicau, e algumas outras pessoas nas quais identifiquei essa tendência, alguns talvez em menor grau.

Posteriormente vim a conhecer outros buldónhes como sendo o meu amigo Jean de Dieu, Ti Nênê, meu amigo Tony (EICM) também ele multifacetado, Totoi (antigo colega de trabalho), Zé Torneiro (também antigo colega de trabalho), Mateus Monteiro (um amigo de longa data) faz pintura artística, criação de móveis, réplica em miniaturas de alguns navios antigos que faziam a ligação entre as ilhas e também um apaixonado por mecânica e trabalhos de Bate-chapa. Como o círculo no qual me circulo é muito pequeno, por esse número de buldónhes que eu apresentei aqui poderia depreender que o ser buldónhe é uma característica própria do nosso povo, da nossa condição de ilhéu e da nossa condição económica, condições essas que nos levam a ser criativos e a nos aventurarmos em campos diversos nessa necessidade de nos desenrrascarmos, então podemos concluir com isso que quase todos os Cabo-verdianos são buldónhes uns mais do que outros? será isso? ou será uma habilidade nata?

Assim sendo penso que vários outros buldónhes devem existir por este Cabo Verde. Depreendo que muitos buldónhes passaram pela Escola Técnica de Mindelo, outros por razões diversas não tiveram essa oportunidade.

Talvez devêssemos levar a sério esta palavra buldónhe e instituir um dia como sendo o dia do buldónhe e dever-se-ia prestar atenção às crianças com essa tendência e investir nelas com programas criados por buldónhes que se tornaram em Buldónhes-científicos.