Muitos chegam à tardinha após a labuta do dia que inicia-se bem cedo, mas também há outros que chegam bem cedo, logo de manhã. Na Praia dos Botes algumas pessoas aguardam. Lá estão também aqueles que têm um bote como casa e as estrelas como lençol, e também há os curiosos e as vendedeiras de peixe. Ao fundo da Praia dos Botes, no outro extremo, em direcção aonde o sol se esconde e lança essa matiz dourada encontra-se o Monte Cara. Na praia exala-se o cheiro a mar, a marisco e também a podridão. Alguns dos presentes exibem naturalmente os seus corpos musculosos, músculos talhados no dia a dia de labor; outros também naturalmente exibem aquele que foi em tempos um corpo musculoso mas que ora evidencia os ossos debaixo da pele ressequida pelo sol. Todos juntos arrastam o bote nun gesto de solidariedade. É este o cenário da chegada dos botes.
"Junt nôs ê mdjôr" de João da Graça, ano 2003, óleo, 130x97 cm
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